sábado, fevereiro 11, 2006

Amanhacer

El alba, como dizem os espanhóis, utilizando uma expressão da qual gosto muito, é a altura do dia que mais gosto.
Gosto do prenúncio do dia, ainda matéria disforme, pronta a moldar.
Gosto das ruas vazias, com a promessa de terem gente.
No Inverno gosto de sentir a maresia fria cair-me no cabelo, que se vai encaracolando com o contacto da humidade, e depois nas faces...
No Verão gosto daquela frescura, resquício da noite que se vai esvaindo a pouco a pouco com a entrada do sol em cena.
O amanhecer cheira a novo, cheira a promessa, cheira a vida...

quarta-feira, fevereiro 08, 2006

Nascer

Nasci num frio dia de Inverno, perto do Carnaval. No lugar onde nasci o frio é mesmo frio, entorpece os sentidos.
Nasci no dia 8 de um Fevereiro pequeno e mirrado, mas alegre com a promessa de Primavera que Março vai trazer.
Nasci num ano como todos os outros, ou se calhar diferente de todos os outros...
Bem, o que importa é que nasci, e que a vida é uma dádiva imensa.
Obrigada à C. , a quem dei vida, por me fazer olhar para a vida com outro olhos. Com os olhos da novidade, com os olhos da inocência, e com os olhos cheios de entusiasmo por tudo aquilo que é novo.

terça-feira, fevereiro 07, 2006

Começos

Nasci num local aprisionado entre a indústria e a agricultura, rodeada de gentes a quem se pode chamar um híbrido proletariado rural.Vim para a grande cidade, mas o cheiro dos fios acabados de fiar e da chuva a molhar a terra jamais me vão deixar...

Canção

Rui Veloso cantou, com palavras de Carlos Tê, a vida de uma fiandeira. Como que em jeito de justificação do nome deste blog, aqui fica a letra dessa canção.

Balada da Fiandeira
Quando ela deixa o turno fabril
Apanha o autocarro e regressa
Espalha em casa o odor têxtil
E a roda viva recomeça

Ao pôr do sol faz uma pausa
E pensativa vai à janela
Como se dali fosse ver tudo
O que é mistério à volta dela

Depois liga o rádio na onda média
Ansiosamente remexe o botão
Em busca daquela força
Que às vezes vem numa canção

E se passarem a Janis Joplin
Fica acesa num repente
Põe-se a dançar em frente ao espelho
E sobe a saia acima do joelho

E vai cantando no quarto de banho
Aproveitando a ressonância
A vizinhança acha estranho
E até comenta a extravagância

Mas ela é assim está-se nas tintas
Tem ganas de se ir embora
Mandar o seu mundo ao ar
Subir ao palco e ser cantora

Rui Veloso/Carlos Tê